sábado, 15 de dezembro de 2007

"Distant Star": THE FOREIGN FILMS!


Quantas vezes não nos pegamos de olhos fechados, explorando paisagens imaginárias delineadas de acordo com as ondas sonoras que absorvemos? Climas inspirados por canções que têm o poder de alterar sensações, seja na mudança simples de um acorde ou na fluidez de uma bela melodia. Respostas emocionais que se mescladas a imagens, como faz o cinema, traz à tona com rapidez todo o fluxo de sentimentos que naquele momento se processa na vida do ouvinte.

E foi seguindo esse processo, pela via inversa, como emissor, é que o canadense de Hamilton Bill Majoros, colocou as experiências de seus três anos passados como uma trilha sonora em Distant Star. Álbum debut do projeto solo de Majoros, The Foreign Films, o disco traz dois CDs e 22 faixas. Bill (originalmente músico de estúdio e membro de bandas como The Cloudsmen e Flux Ad) contou com a participação de diversos amigos no projeto, mas executou uma infinidade de instrumentos como guitarras, baixo, bateria, órgão, piano, xilofone, vibrafone, além dos vocais.

O resultado prima pelo ecletismo em ambiências suaves e oníricas. Passeia por orquestrações guiadas ora por vocais psicodélicos como em “Remenber To Forget” ora por melodias pop como em “Another World Behind The Sun”. A faixa título “Distant Star” segue pela beleza melancólica do trip hop noventista, lembrando, a cântaros, o Portishead. Guitarras cantam mais alto em “Clouds Above The Radio Towers” e realçam o timbre vocal amigável de Majoros. “The Grand Unknown” embala como os grandes sucessos românticos dos anos 50/60, quando pop stars eram também film stars. Abrindo o disco dois, o sotaque pop de “The Lonely #1” anima o salão e entrega a dança para a doce “My Heart Can’t...”. A levada e as pausas de andamento só valorizam a melodia envolvente de “Too Good To Last”. “Smoke and Mirrors” revela que o disco dois gosta mais das guitarras rock e das tramas melódicas do pop. Mas que não esqueceu como se faz uma bonita e triste canção, com vibrafones, trumpete, violinos e melodia emocionante: “Raindrops Of The World Descend (Disappearing Act)”.

Os Indefectíveis ‘pa-pa-pa’, do cativante pop sessentista de “Polar Opposites”, mostram toda a capacidade de Majoros em cambiar a polaridade do humor de suas canções, sem perder relevância. Também nunca é tarde lembrar as influências de Lennon e Cotton Mather no som do Foreign Films – “Cinema Lights” nos refresca a memória com extrema elegância. A pegada rocker, o refrão colante de “Reason Or Rhyme” e “Árcade By The Beach” empolgam e surpreendem quando percebemos que chegamos à vigésima e vigésima primeira músicas sem uma gota de tédio. E ainda restam os quase nove minutos de “The Snowglobe”, estrategicamente divida em três partes - a vitória do pop orquestral, se mantendo consistente e agradável ao mesmo tempo.
E talvez tenha sido essa a intenção de Majoros: forjar a trilha sonora da sua vida, com momentos de clímax, reflexão, diversão, sem perder o sólido fio condutor.
Uma sutil beleza erudita entremeada pelo prazer fácil do pop, em um disco duplo admirável.

www.theforeignfilms.com
www.myspace.com/theforeignfilms

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

"Evan Hillhouse": EVAN HILLHOUSE!


Há algumas semanas, apresentei aqui o cantor-compositor californiano Blake Collins como o menino prodígio de L.A. Pois bem, se Collins é prodígio, Evan Hillhouse é fenômeno. Do alto de seus 18 anos e direto das carteiras escolares do segundo grau, o cantor-compositor de Simi Valley, também Califórnia, chega com seu impressionante disco homônimo de estréia. É de se esperar que um menino recém saído da infância, esteja mais interessado em marcar sua nova posição de adolescente à base de muita rebeldia. Seja gritando sua indignação em uma banda punk ou querendo assombrar os pais num combo de death metal. Mas a maturidade chega precocemente para poucos, que, em alguns casos, são os chamados gênios. Nem mais nem menos, é como podemos chamar Hillhouse: gênio.

Seu primeiro álbum não deixa dúvidas quanto a isso - o menino toca todos os instrumentos (guitarras, baixo, bateria, acordeão, piano, mellotron, ukelele, órgão Hammond, mandolin, teremim, vibrafone, etc, etc...) - além de fazer a voz principal e as harmonias vocais. Revela também seu gosto por timbragens vintage, usando guitarras Gretsch, baixo Rickenbaker e bateria Ludwig. Claro que tudo isso não seria relevante se Hillhouse não dominasse arte da composição. E é aqui que aparece o diferencial: o americano soa como um artista maduro, com referências clássicas, de Beatles a Zombies, de Harry Nilsson a Burt Bacharad.

A faixa de abertura “Theme” é instrumental, com piano acompanhado por um acordeão, desfilando uma melodia elegante, agradável e clássica. “I Love Like You” traz o ritmo ao piano, para se acompanhar no estalar dos dedos e todo mundo junto no “uh-la-la-la”. Em seguida a batida espertíssima de “Green Arrow”, com sotaque jazzy, melodia refrescante, viradas de bateria precisas e intervenções de guitarra perfeitas. Nesse ponto Hillhouse já mostra porque está à milhas da concorrência juvenil. “Sleeping With A Friend” traduz a ambição pop do mutiinstrumentista: melódica e assobiável. Leve batida de valsa na orquestrada “Nothing To Lose”, adornando a melodia com sons de violino. A envolvente “Making The Most Of It” traz o clima jazz-pop descontraído na linha de Ben Folds e afins.

O tom de certa dramaticidade de “Can’t Stop Saying Yes” é dado pelas entradas de um teremim, mas que dilui-se nas passagens piano-pop da canção. “Dramatic Reruns” é balada com baqueta vassourinha, trumpete e piano para dar o tom intimista e letra sobre o fim de relacionamento, que certamente Hillhouse não tem idade para viver. “Reason To Live” confirma a veia pop do artista, sempre guiada pela notas do piano. “Hanging By A Thread” vem num crescendo até explodir no refrão impregnado de mellotron, harmonizações celestiais e melodia grandiosa. Como todo o álbum acaba soando e surpreendendo pelo poder de composição de um a garoto recém-saído das fraldas - e que promete muito em se tratando da música pop. E eu só me pergunto uma coisa: o que esse geniozinho estará aprontado daqui a dez anos?

www.evanhillhouse.com
www.myspace.com/theshrines

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

"Bedroom Demos": BUTCH YOUNG!


Desmontada a lógica funcional das grandes gravadoras – como nós a conhecíamos desde sempre – milhares de artistas viram sua voz alcançar qualquer canto do mundo com o compartilhamento digital. Claro, também surgiram bolsões de riqueza, onde pouquíssimos músicos realmente ganham dinheiro com seu trabalho. O eldorado de estar em uma major não existe mais e o faça-você–mesmo volta com toda força no mundo musical da nova era. Agora o caminho é gravar o que se gosta, disponibilizar na grande rede e ver a quem vai agradar – e os dividendos que por ventura possam vir daí.

Butch Young é mais um talentoso artista independente que vem de Los Angeles. Teve duas de suas canções lançadas em coletânea do International Pop Overthrow: “Fly Me, Buy Me - com participação de Berton Averre (Knack), Phil Jones (Tom Petty), Rick Rosas (Neil Young,), Adan Everly (Everly Brothers) e John Easdale (Dramarama) – apareceu no IPO 10; e “One Foot In”, no IPO 9. Seu último trabalho é a gema pop Bedroom Demos, com sete canções onde toca todos os instrumentos e assina todas as composições . E é a própria característica caseira das gravações que ressalta a qualidade autoral de Young. Sem efeitos para esconder deficiências de composição ou superprodução que mascarem evetual falta de personalidade.

Abrindo o disquinho, “One Foot In” já cativa de início com seu cantarolante ‘pa-pa-pa’; e segue num clima de encanto melódico até chegar a “The Reason” e sua batida envolvente; variação de acordes preparadas para dominar os sentidos. A ambiência das canções lembram as de Sean Lennon, com a diferença do interessante intercâmbio de timbres vocais de Young. Como em “Mohammed On The Top Of The Mountain”, onde o timbre grave se entremeia com o agudo, sobrevoados pelas celestiais harmonias de voz. Que, de volta à casa, batem na porta da canção seguinte: “Heaven’s Gate”. A perfeição melódica de “Dandelion” chega ao cume da glória pop onde já estava “Donkey Boy” e sua levada guiada por piano e intervenções de metais. “Heartbreak Christmas” encerra o disco e confirma a vocação pop em canções climáticas de Bedroom Demos.
Se Young se contenta em ser rico de talento, deve lidar bem com o fato de ser vizinho da indústria que enriqueceu de dinheiro artistas menos capacitados que ele. Por outro lado, deve saber que receber elogios sem pagar jabá não tem preço para o ego.

www.myspace.com/butchyoung

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

"The Ballad Of": BABY CRENSHAW!


Há alguns meses atrás tive a honra de falar com Paul McCartney aqui no Power Pop Station. Agora o contato é com o outro beatle, e lenda eterna, John Lennon. Quer dizer... , a entrevista na verdade foi com David Grahame, que havia interpretado Paul na produção da Broadway, Beatlemania. E agora apresento, em primeira mão, Daniel Malozzi, o Baby Crenshaw, que interpretou John na versão brasileira do mesmo Beatlemania.
Mallozzi vive em Santos e há anos vem se dedicando a projetos musicais envolvidos com os fab four. Depois do espetáculo da Broadway, veio o Beatles Sinfônico e agora The Beatles Songs, com o qual Mallozzi viaja todo o Brasil e consiste em um ator, uma banda de rock e um quarteto sinfônico executando as canções dos Beatles.

Em paralelo o paulista leva seu projeto musical solo chamado Baby Crenshaw e que segue na linhagem de composição dos... Beatles! A imersão por anos no universo musical do quarteto de Liverpool criou uma capacidade natural, quase espontânea, em Mallozzi de forjar canções de alto teor pop. Pop na acepção artística da palavra: melodias envolventes, vocais agradáveis, instrumentação simples e de extremo bom gosto. E Malozzi colocou tudo isso em The Ballad Of, seu CD demo, com 12 músicas em inglês, composto, tocado, produzido, gravado e arranjado pelo próprio. Confesso me surpreendi com o “discernimento beatle” de Baby Crenshaw, que achei só encontrar em bandas/artistas estrangeiros – pela simples falta de tradição/cultura/bagagem brasuca no estilo, não de talento. Às vezes Malozzi pode soar como um Bob Dylan, só que sem a voz desagradável do trovador americano. Outras lembra John Lennon e, por extensão, o grupo americano Cotton Mather.

A qualidade autoral das canções impressiona, exposta em uma produção básica e sem firulas – hoje com todas as possibilidades técnicas chamar uma gravação de ‘caseira’ pode ser pouco elucidativo. O que importa é que o contexto “faça-você-mesmo” só ajuda a realçar a habilidade de Mallozzi como compositor. Entre as canções não há destaque aparente, apenas o nível de proficiência é sempre mantido alto. Na esperança de ver The Ballad Of lançado oficialmente ano que vem, guardo um faixa-a faixa para a ocasião.
Provavelmente a "inteligentsia" e a indústria musicais do país não vão permitir – como já vem fazendo há alguns anos – que uma banda que cante em inglês sobreviva. Mas o mundão de Deus agora é uma aldeia e o céu é o limite para o talento de Malozzi. Garanto que em países como Estados Unidos e Espanha o Baby Crenshaw será muito bem acolhido, não vai vender milhões – ou vai? – mas vai conseguir um séqüito de fãs. Quem sabe algo quase como uma mini-beatlemania...


www.myspace.com/babycrenshaw

terça-feira, 20 de novembro de 2007

"Now That You're Fed" - CHRIS BROWN!


Vez por outra esbarramos com pessoas abençoadas por múltiplos talentos. E não raro nos perguntamos: “por que não eu?”. Mas o melhor é nos concentrarmos em nossas próprias habilidades e desfrutar daquelas que outros podem oferecer. É aqui que entra Chris Brown: cineasta independente de São Francisco, EUA, além de produzir filmes elogiados como Scared New World, nos traz seu primeiro álbum de canções, Now That We’re Fed.

Porque além de profissional da película, Brown teve lá suas bandas e colaborações como músico em discos alheios (um exemplo mais recente é a participação no álbum How I Won The War... dos Well Wishers). E apesar do que poderia sugerir sua ocupação principal, o cineasta-músico não trata suas músicas com visão “filmográfica” ou com brechas adaptáveis a trilhas sonoras. Talvez as letras, baseadas em narrativas e descrições, revele o traquejo roteirista de Brown.

O tratamento dispensado ao disco é de um verdadeiro cantor-compositor interessado em apresentar canções pop de acabamento bem cuidado. Em Now That... o músico americano toca as guitarras, o baixo, piano e órgão, além de fazer os vocais. Na produção tem o auxílio luxuoso do ex-Jellyfish Chris Manning, o que acaba dando um ar exuberante à gravação – fato louvável para um álbum editado pelo próprio artista. Já o clima das faixas trafega pela delicadeza acústica e a consistência sônica do pop orquestral.

Na abertura do álbum essa delicadeza emerge em “Right on Time” e “I Won’t Ask Why”, que nos remetem à imagem de um Elliott Smith sem tantos ressentimentos, harmonizações paradisíacas e pitadas de orquestrações à moda E.L.O. “All My Rivals” foi a canção que me fez procurar Chris Brown: vocais macios, harmonia “Wilsoniana” e melodia das que te fazem acreditar que o mundo pode ser melhor. A canção título vem com a pose erudita dos violinos, mas que só realça a natureza pop das melodias. Piano e voz para a celestial “Waiting For Caroline” e voz e violão para “Things She Laughed About”. Não mais que um minuto e meio é necessário para o desfile da beleza orquestral e acústica em “Tummy Ache”. A grandiosidade instrumental encontra a sutileza pop em “Not Gonna Make It Easy”, lembrando os melhores momentos do Jellyfish. Jill é a “Another Girl” que encerra o disco: ela pode ser Madonna de cabelo verde-choque ou Sócrates de blue jeans.

Agora que você está nutrido (“Now That You’re Fed”) de perfeitas canções pop, cometa o pecado da gula, pressione o repeat e sirva-se outra vez, outra vez e outra vez.

www.chrisbrowntunes.com

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

"She's About To Cross My Mind": THE RED BUTTON!


Provavelmente todos os sites, blogs, revistas e afins do mundo - relacionados de alguma forma ao power pop - já deram seu veredicto a respeito de She’s About To Cross My Mind. O que não impede que eu dê minha versão pessoal e faça isso chegar aos que lêem em português. Até porque este é um disco, mais uma vez, que leva a discussão além da crítica musical. Acaba envolvendo hábitos culturais do mundo moderno, a indústria do entretenimento e o direito que as novas gerações têm de enxergar (ouvir) as sonoridades sixties com um sentimento de frescor e não de bolor.

The Red Button é Mike Ruekberg e Seth Swirsky, que se uniram para despejar na banda sua paixão pelos anos dourados do pop sessentista. Ruekberg é cantor-compositor de Los Angeles e líder da banda Rex Daisy. Seth Swirsky é californiano, homem multi-tarefa com a necessidade extrema de se expressar através de sua arte: é cantor compositor (lançou em 2005 o clássico Instant Pleasure, além de já ter composto hits para Rufus Wainwright, Al Green, Tina Turner, Celine Dion, Olívia Newton-John, Eric Carmem, entre outros); artista plástico e pintor; escritor de livros sobre baseball (tem uma vasta coleção de “memorabilia” sobre o esporte ianque); cineasta amador que produz documentários. E ainda sobrou tempo para formar o The Red Button – e gravar este seu debut She’s About To Cross My Mind.

Já na capa do álbum o sabor de moda retrô aflora e compõe com as garotas do swinging-london da contra-capa. Mas não é vinil que vai soar. Alguma incompatibilidade de eras pode aparecer, quando o sensor ótico do laser tocar “Cruel Girl”: levada típica do pop sessentista, tecladinho vintage soando, merseybeat no ar e a certeza de que a canção seria hit quarenta anos atrás. Doce e macio vocal, melodia colante na linha Fountains Of Wayne, e eis a perfeição pop da canção título “She’s About To Cross My Mind”. “Floating By” moderniza o ambiente nas espetadas de guitarra, mas é o piano que guia a canção; as intervenções de metais levariam a faixa as AM radios dos seventies.

Envolvente, “She’s Going Down” pode, porque não, almejar as paradas atuais, assim como os sha-la-las de “I Could Get Used To You”. Faixa campeã, de arrepiar power popers, “Hopes Up” tem melodia beatle, refrão memorável e o céu, caro ouvinte, é logo ali. Girls, girls, girls, a fixação de Ruekberg e Swirsky, tão ingênua e saudável como os sessenta e “Can’t Stop Thinking About Her”. O ataque do tecladão invocado, a batida cativante, e o refrão bubblegum não faria “Gonna Make You Mine” parar antes do posto número um das paradas.... quatro décadas antes. “Ooh Girl” soa mais americana que “british invasion” e aproveita o terreno patrício para entregar o bastão para o pop psicodélico “Free”. Fechando o disco a balada de beleza melódica desconcertante “It’s No Secret”.

Por certo um disco perfeito, onde não cabem adjetivos – sempre de tom pejorativo – como derivativo ou revivalista. Cabe sim a palavra atemporal, onde não importa quando foram feitas as canções e sim o poder que elas têm de cativar ouvintes. E de ainda permanecerem jovens para os que guiam sua sensibilidade musical pelas boas melodias e não por departamentos de marketing de grandes gravadoras (que, aliás, querem os préstimos hitmakers de Swirsky para sua estrelas, mas não querem nem saber de lançar um álbum como este). Assim, trazemos para nós a famosa frase “não fomos feitos para estes tempos”, que acaba confirmada na opinião de Norman Smith - engenheiro de som dos Beatles e produtor de discos dos Zombies para a EMI: “se o Red Button tivesse aparecido nos 60, quando eu estava produzindo, eu teria assinado um contrato com eles pela EMI.”

www.theredbutton.net
www.myspace.com/theredbuttonband

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

"Mark & The Spies": MARK & THE SPIES!


Sempre que fico frente a frente com um disco como este debut do quarteto holandês Mark & The Spies me pergunto: quantas pessoas seriam capazes de descobrir que se trata de álbum gravado em 2007? E mais ainda: quantas não aplicariam a palavra “derivativo” ao tipo de som apresentado? O clima retrô fica evidente já na capa e confirmado a cada faixa do disco. Mas quem, nascido depois dos anos 70 em diante, pode realmente se incomodar com a falta de inovação do Mark & The Spies?

O frescor das composições é atemporal; a energia despejada encontra qualquer juventude; e as melodias pop dominam os sentidos. Até porque Arjan Spies (guitarra e vocais), Mark Wesseloo (baixo e vocais), Jelle Verhoeks (teclados e sax) e Gerrit Scholten (bateria e backing) não passam dos vinte e poucos anos e descarregam todo seu vigor numa mescla de sixtie e garage pop, pouco interessados se seus heróis fizeram história a 40 anos atrás.

O disco começa pelo teclado nervoso e refrão harmônico de “Try As I Might”, não deixando dúvidas do que vem pela frente. “Wait Forever” vem embalada pelas palmas ritmadas e a força de guitarras afiadas. “This Heart For Another” passa pelos melhores momentos das canções pop dos sessenta, daquelas feitas para cantar junto. “Another Chance” não amacia e segue na cartilha das garage bands, batida vigorosa, teclados onipresentes e... “baby, por favor, me dê outra chance”. Hit “yeah, yeah, yeah” como os Beatles faziam no início da carreira, aparece aqui em “But I do”. Ecos do antigo Zombies - que usava e abusava do barroquismo em teclados e órgãos – são captados em “Be Patient”. Até duelo de guitarras e sax acontecem na virulenta, e com pinta de jam session, “See Her Tonight (Money)”.

Sem pretensão de ser ou soar como os hypes ou “bandas modernas” – hoje mais interessadas em figurar em capas de revistas do que oferecer boas melodias – os garotos holandeses só querem diversão tocando o que gostam. O Mark & The Spies poderia tranqüilamente ter surgido nos anos 60, mas, ainda bem, não aconteceu: fariam mais falta hoje em dia que em épocas passadas.

www.markandthespies.nl
www.myspace.com/markandthespies



segunda-feira, 5 de novembro de 2007

"Solid Ground" - PETER BALDRACHI!


Alguns discos têm a capacidade de prolongar sua relevância através do tempo. Muitas vezes não são os mais melódicos, os mais energéticos ou os mais impactantes de cara. São aqueles que vão se mostrando cada dia mais consistentes com composições sólidas e bem resolvidas. Normalmente esses álbuns se transformam em clássicos. É o que vai acontecer com Solid Ground em alguns anos dentro do power pop.

Músico e compositor de Boston, Peter Baldrachi é originalmente baterista de ofício. Em seu disco de estréia assumiu as baquetas, cantou e compôs todas as canções. Nas gravações contou com a colaboração dos amigos Gary Rand nas guitarras, Steve Buonomo no baixo e Lester Goodwine nos teclados, entre outros. O resultado agradou a power popers do mundo todo e é facilmente revelado num faixa-a-faixa.

A música de abertura “Solid Gound” e seu riff sincopado vai passo-a-passo até o refrão recheado de harmonia vocal e guiado pela melodia adesiva, já deixando a pista de um álbum tipicamente power pop. “A Better Place” traz um riff mais fluído e menos pesado e novamente capricha no refrão envolvente. “Breakdown” e “(Are You That) We Belong vêm com sonoridade mais rock’n’ roll com tradicionais intervenções de guitarra.“You’re Gonna Miss Me Someday” soa macia e radiofônica, com a aquela melodia que só o power pop sabe oferecer. “Wait In Vain” tem sotaque country pop no andamento e refrão ultra-melódico. “Round And Round”, “Star Up Again” e “Making Sense Of Nothing” permanecem na linha de riffs vigorosos e melodias cativantes. Encerra o álbum, com paisagens plácidas, harmonias celestiais – sem esquecer das pontadas de guitarra aqui e ali – a doce “What Do You Want From Me”.

E assim se forja um clássico do power pop. Potência rocker equalizada com o carisma das melodias pop. Timbre de voz “amigável”, harmonias vocais intrincadas e guitarras afiadas – pero no mucho – sem excessos ou “invencionices”. Canções para serem ouvidas com prazer, mesmo daqui a 50 anos.

http://www.peterbaldrachi.com/
www.myspace.com/peterbadrachi

"Learn How To Love" - MITCH LINKER!


Em que pese opiniões roqueiras em contrário, não há como negar: Elton John é um mestre na arte da canção pop guiada pelo piano. Independente da orientação mais comercial de suas composições. E sua influência na pop music mundial é inegável – nos revelou, por exemplo, artistas sensacionais como Ben Folds (uma espécie de Elton-John-alternativo-com-afiado-senso-de humor) e aparece como referência cristalina no trabalho de Mitch Linker.

Cantor-compositor de Connecticut, Linker chega ao segundo disco solo, Learn How To Love – depois de álbuns lançados com as bandas The Dent e The Day Traders. Aqui o músico executa suas composições, canta e toca o piano, deixando o resto da instrumentação com amigos e convidados. Logo na primaria audição fica clara a habilidade de Linker no seu ofício: a destreza em forjar canções pop perfeitas. Piano onipresente, voz doce, melodias pop até a medula. Imagine Elton John tocando músicas do Fountains of Wayne; ou o Cherry Twister/Steve Ward interpretando Billy Joel. É só conferir “Bright Side”, “The West Side”, “Time On My Hands” e “Wonder”. Já “America” poderia ser composição de Matthew Sweet, mais marcademente no refrão e no timbre de voz de Linker.

As faixas que remetem direto às baladas de Elton John – e que facilmente poderiam alcançar boas posições nas paradas de sucesso – são as belíssimas e emocionantes “Far Away”, “Learn How To Love” e “Easy”. Fecha o álbum “Indian Summer Wind”, buscando – e alcançando - a grandiosidade harmônica e melódica de Brian Wilson.
O título do álbum entrega muito do objetivo emocional das canções, que nada mais fazem do que trazer uma enorme sensação de bem-estar e a vontade de estar perto de quem se ama.

www.mitchlinker.com
www.myspace.com/mitchlinker

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Disco do ano: "Gran Jukle's Field" - THE NINES!


A cada dia que passa tenho mais certeza: o melhor pop do mundo não está nas paradas de sucesso. Não toca nas rádios. Não aparece nas novelas. Não figura nas páginas das melhores revistas, nem nas listas de melhores do ano. Muito menos no cast dos principais festivais de música pelo mundo afora. Mas ele está vivo e forte, fluindo consistente das mentes criativas e talentosas de artistas desconhecidos do grande público e distantes do júbilo da fama e dinheiro. Talvez aí a explicação: música movida pela paixão, errando bolsos, atingindo corações.

Steve Eggers, cantor-compositor canadense de Toronto, é um destes artistas e externa seu talento criativo no projeto The Nines. O grupo, que funciona mais como Eggers + colaboradores, chega ao quarto álbum com este Gran Jukle’s Field e, provavelmente, ao seu ápice artístico. Colaboram aqui “famosos” do power pop, como William James do Bleu e Jason Falkner, o que acaba por conferir um certo padrão de qualidade ao álbum. Mas, que fique bem claro, não é a chancela destes artistas que confere a Gran Jukle’s o rótulo de obra prima do pop, e sim a maestria de Eggers. Que consegue condensar em 12 faixas o melhor que a pop music pôde produzir nos últimos 40 anos. E com perfeição: melodias ganchudas, harmonias celestiais, timbragens de voz e instrumentação magníficas e climas deliciosos e oníricos, que te levam a correr por imaginários campos dourados de trigo. O segredo aqui é a sensação de bem-estar e euforia gerada pelas canções. Como todo pop que se preze deveria ser.

“Insanity (The Sanest Thing You’ve Got)” já abre o disco golpeando melodicamente o mais insensível dos seres: batida ao piano, harmonizações angelicais na escola Jellyfish/E.L.O. e pop como todo beatlemaníaco aprecia. “Don’t Be A Fool” poderia ser uma composição de Paul McCartney executada com uma batida disco/pop e para ser dançada pela stripper que Eggers cerca em “Dance Just For Me”, que por sua vez soa próximo a uma balada do Weezer. Com refrão ultra-melódico, baseado em notas de piano, vem a energética “She Hijacked Me”, desaguando em seguida na maccartiana e de refrão a mil vozes, “Chantel Elizabeth”. A brillhante e hiper-pop “I Am Lost”, mescla a fase inicial e mais obscura do Bee Gees com a sua gloriosa era disco. “Virginia” mostra mais do artesanato pop de Eggers e “Safe” emula a fase surf dos Beach Boys: uma canção com gosto de praia e havaianas graciosas dançando o ula-ula.

Neste ponto você descobre porque veio a mundo e que não pode viver sem uma canção pop perfeita: “Monoty’s Song”. Até música tradicional americana de acento country - para ser tocada com banjo, para cowboy se segurar em cima do touro – Eggers transforma em gema pop, como "Find Our Way Back Home". Imagine então o que ele pode fazer com uma canção de amor... “Eileen” eleva aos céus os sentidos com acordes e melodia dos deuses. A faixa título encerra a coleção de pérolas, seguindo a linha das canções acústicas de Macca no primeiro terço, emenda uma turbinada grandiosa à la Jellyfish e chega ao topo com um chorus envolvente - onde você já começa a identificar a personalidade de Eggers entalhada em meio à profusão de referências.
E essa habilidade do canadense em utilizar suas melhores influências para moldar criativamente suas jóias pop e revelar a uma nova geração o melhor que o pop produziu nos 60 e 70, é o que confere a Gran Jukle’s Field o título de disco do ano.

www.ninespop.com
www.myspace.com/ninespop

"Nevermind Lullabye": NUSHU!


Não é comum ver bandas de garotas no power pop. Muito menos quando a banda se resume a duas componentes. E muito menos ainda quando o grupo tem duas minas que cantam e tocam todos os instrumentos. Formado na Califórnia pelas amigas de infância Hillary Burton e Lisa Mychols, o Nushu chega com bagagem ao álbum debut Nevermind Lullabye. Nos tempos de colégio, Lisa e Hillary já tinham estado juntas no grupo The Mozells. Depois cada uma seguiu seu rumo e Lisa transformou-se numa das mais conhecidas artistas femininas do power pop. Além de consistentes e elogiados discos solos, Lisa liderou o The Masticators e fez parte da formação do The Waking Hours (que empresta seu líder Tom Richards e o guitarrista Ricky Tubb para acompanhar as garotas nas apresentações ao vivo).

Apesar do disco de estréia do Nushu só ter chegado às prateleiras em 2007, “Spill” saiu nas coletâneas I.P.O. 10 e Sweet Relief; e “PopSound” esteve no I.P.O. 9. “Spill”, aliás abre o álbum em alta-voltagem, com energia punk, vocais gentis e melodias colantes, emendando nas envolventes “So Glad You Dig Me” e “Need To Be” – e o disco começa a não esconder as influências de Go Go’s, Bangle’s até da musa indie Tanya Donnelly e seu Belly. Desaceleram a urgência punk rock e embalam na angelical “Ageless” e suas harmonias descidas do paraíso. “She Said” atesta toda a experiência “power popper” na variação de acordes da dupla, que passa à mudanças de climas e passagens mais complexas e pesadas em “Fall Down”.

“Alexander Zabriel” transforma Hillary e Lisa nas Josie and The Pussycats endiabradas do power pop, até a bela “Reach For Me” colocar as auréolas de volta com sua melodia radiofônica e cativante. O baixo cheio de groove confere personalidade às moças em “Falkner’s In Love”, que não se fazem de rogadas e ainda capricham no refrão sem perder o traquejo pop - confirmado pelo título da próxima canção: “PopSound”, onde envenenam com distorção a singela pagada sixtie. Fecha o álbum a terna versão acústica de “Ageless”, chamada de “Lullabye Mix”.
A verdade é que bandas de garotas nunca estiveram nas galerias do power pop clássico, mas se o Nushu trouxer no rastro algumas seguidoras que seja, em breve teremos que rever nossos conceitos e abrir o panteão para grupos que vestem saias.

www.nushumusic.com

"How I Won The War...": THE WELL WISHERS!


Artistas inquietos e prolíficos são “like a rolling stone”: não criam limo e não se contentam com um projeto único. Líder de uma das mais antigas e conhecidas bandas de São Francisco, o Spinning Jennies, Jeff Shelton criou seu projeto solo e pararelo, o The Well Wishers. Que com How I Won The War... chega a seu terceiro disco cheio. Shelton produziu o álbum e tocou todos os instrumentos, com exceção da bateria, a cargo de Nick Laquintano.

E o comandante Shelton não veio brincar: “Grey Skies Black” é o cartão de visitas com distorção no talo, riff nervoso, batida vigorosa e o contrapeso com vocal amigável, melodia sinuosa e bem tramada. “Seashells” é o clássico power pop pronto para as multidões, mas que só chega aos ouvidos de poucos privilegiados. A acústica “Merilee” lembra que às vezes o timbre vocal de Shelton pode remeter ao de Ken Stringfellow e “Hope Is Fading” nos lembra que riffs potentes de guitarras são par perfeito para ganchos melódicos. “After Dark” é co-autoria com o cantor-compositor e cineasta Chris Brown, que executa um belo, climático e denso piano. Paredes de guitarras erguem-se e tentam sufocar a voz com efeito de Shelton em “The Optimist”, que sobrevive até a melodia auto-adesiva de “I’m In Love (Slight Return)”.

A grande influência do Well Wishers fica transparente em “Broken Glass” e “Resistance Is Futile”: The Posies. Da harmonização vocal até a produção das canções, tudo remete à banda de Seattle. Mas em “It’s True What They Say About Girls”, a marca do compositor Shelton também aparece – o gosto por afiados riffs de guitarra, peso mastodôntico na distorção, amaciando com força inversamente proporcional nas vocalizações e melodias pop. A batida marcial de “Soldiering” marca a angústia, medo e solidão de um soldado em combate, antes da faixa bonus “Nostalgia”, da banda Chameleons UK.
How I Won The War... leva às últimas conseqüências a contraposição da virulência do rock com a acessibilidade do pop, entremeadas harmonicamente nas canções de Shelton. E sobe alguns degraus em relação do disco anterior, Under The Arrows.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

"Fourth" - JUNEBUG!


Desde 2004, o Junebug vem lançando álbuns com os singelos títulos “primeiro”, "segundo", e assim por diante, mantendo a sequência e a frequência de um por ano. Neste quarto, ou Fourth, viram que não conseguiriam um lançamento oficial a tempo de manter a tradição anual e soltaram um versão em CD-R. A versão final provavelmente só verá a luz do dia no ano que vem. Nascido em Abergele, North Wales (Reino Unido) o Junebug é formado pelos irmãos Ralph Latham (guitarra e vocais), Guy Latham (baixo e teclados) com o amigo Warren Gilbert na bateria, e, como eles mesmos afirmam, a proposta aqui é produzir um “power pop vintage”. O que poderia sugerir um som que nos remetesse ao início do estilo, nos anos 70. Mas o Junebug retrocede uma década além e molda seu som com a delicadeza e simplicidade do pop sessentista, passando pelos ensinamentos dos seminais e onipresentes Beatles e Beach Boys.

O trio baseia seu som na sonoridade do teclado de Guy, como entrega a faixa de abertura - e homenagem à cidade natal - “Abergele”. Trafegam pelo mesmo espectro sônico do Teenage Fanclub e Primary 5 em “Searching For Something”, “A New Generation” e na envolvente “If It Were Not For Us”. Modernizam, com pitadas de distorção, rocks com sabor sixtie, como “Trailer Park Girls” e “Lost In The City”. Ensolaram o clima com o sunshine pop/folk – californiano, “Hey Mr. Sunshine”; cativam com o refrão candidato a hit de “The Best Thing In The World” e com a batida empolgante de “See Your Love”. Mantêm o fôlego pop em inspiradas melodias e acordes ganchudos na penúltima faixa, “A New Generation” e na última e viciante “I Know Your Heart Is Set On Me”.
Vale esperar a versão oficial do CD para colocar as mãos em Fourth, e se deliciar com as paisagens melódicas de vocais agradáveis na melhor tradição da música popular britânica.

http://www.junebug.co.uk/
www.myspce.com/junebugtheband

"New Sense": GRACE BASEMENT!



Cada vez mais a filosofia do ‘do-it-yourself’ funciona melhor. Se antes eram as bandas que faziam por conta própria, agora são os grupos de um-homem-só. Eles compõem, tocam todos os instrumentos, gravam, mixam, produzem... como se diz no futebol, jogam nas 11. O que acaba nos revelando artistas tão talentosos quanto bandas inteiras, com vantagem de não ter que ‘discutir a relação’ nem dividir o cachê. Como diria Chris Von Sneidern: “carreira solo é difícil; mas manter uma banda é assassinato na certa”.

O Grace Basement na verdade é o multiinstrumentista de St. Louis Kevin Bucley, que debuta com este New Sense e não esconde a pretensão de soar como uma banda completa.
Buckley vai desde a facilidade de um Guided By Voices em ser pop e low-fi ao mesmo tempo, apresentando guitarras sujas, harmonias vocais e melodias inspiradoras como em “Green Machine” e “She’s A Dream”, passando pela instigante orquestração desalinhada de “Orphan Annie And The Dump Truck” até a veia country/americana de “Santa Fe” e “As Far As I know”. Em “Marie” e “Caught” emula sua influência clara do folk melancólico e belo do Wilco. “You Must Go Home” engana no início de guitarras toscas para se revelar uma canção acústica com um dos momentos melódicos mais sublimes do álbum.

www.myspace.com/gracebasement

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Entrevista Exclusiva: THE SINGLES!



Quando vi pela primeira vez a figura na capa do novo álbum dos Singles, Start Again, pensei: “legal, três bombas de fragmentação ou mísseis ar-terra caindo diretamente nas nossas cabeças!”. Petardos de energia explodindo doses massivas de melodias ganchudas e guitarras afiadas; projéteis com sensor térmico direcionados para atingir em cheio todas as fibras do corpo via nossos ouvidos. Depois de tanta imaginação, descobri que se tratava na verdade da “3-Tied Logo”, ou seja a “logo das três gravatas”... as bombas nucleares de harmonias sixties eram gravatas... Porque os Singles são um trio que se vestem com terninhos e gravatas finas no melhor estilo mod, e a representação gráfica é a tal logo. Mas o interessante – apesar do aparente ledo engano - está aqui: colocando o disquinho pra rolar, as singelas gravatas transformam-se novamente em mísseis teleguiados: como um The Who em fúria tocando Buddy Holly, ou os Beatles envenenando sua receita a até se transmutarem nos Flamin’ Groovies.

Nascidos na Detroit rock city de lendas como Stooges e MC5 e hypes como White Stripes e Raconteurs, os Singles nunca seguiram o rastro natural deixado por essas bandas. Preferiram a escola de Beatles e Chuck Berry para forjar o seu som. Lançaram o ótimo debut Better Than Before quatro anos atrás, mudaram a formação, com o líder-guitarrista-vocalista Vincent Frederick sendo o único remanescente. Hoje completam a banda John Hale no baixo e Brian Thunders, na bateria. A alquimia do som sixtie com pegada rocker e melodias adesivas continua em Start Again, lançado em 2007, onde bombas e gravatas, já sabemos, têm o mesmo poder de destruição.

Direto de Detroit, Vince Frederick concedeu com exclusividade esta entrevista para o Power Pop Station, onde fala de suas influências, a desconexão com a cena de Detroit, e revela: “temos mais resposta ao nosso trabalho na Europa e Brasil (?!?!) que nos EUA!”.

Power Pop Station: Como começou seu amor pelas bandas sixties? Pergunto porque vocês são muito jovens e, em geral, a juventude atual não me parece muito interessada no tipo de música pop feito por aquela geração...

Vincent Frederick: Eu realmente comecei a ouvir Beatles no colégio, na época do segundo grau, quando as portas foram abertas para todas as bandas daquela era (The Rolling Stones, The Zombies, The Who) como também eram nossas influências aqueles que empunhavam uma guitarra (Chuck Berry, Buddy Holly, Little Richard, Elvis). Era o tipo de música que eu queria tocar. E eu sabia que era o tipo de canção que eu estava interessado em compor. Não acho que existam muitas bandas jovens que também escutem aquelas bandas ou canções.

PPS: Normalmente as pessoas chamam esse tipo de música de “retrô” ou “revivalista”, mas acho que, se crescemos em outra época, isso, de certa forma, soa fresco e novo para nós. O que você acha?

Frederick: As pessoas sempre chamaram a música que é influenciada pelo rock and roll seminal de “retrô” ou “derivativo”. E elas sempre dizem que isso não é original e a desprezam. Mas todas as bandas, musicalmente são, no seu subconsciente, inspiradas pelas bandas/canções que gostam ou escutam. Você simplesmente não pode evitar isso. E vale para todas as bandas… mas eu não gostaria de ficar aqui indicando a direção para ninguém. Críticos musicais deveriam relaxar e não escrever tanto sobre tudo!

PPS: Você acha que o power pop é muito derivativo para alcançar o mainstream?

Frederick: Eu acho que o power pop é basicamente rock and roll com um pouco de influência do punk. É uma questão realmente difícil de se responder por completo, como eu disse antes. Não estou tão preocupado sobre o que é ou não derivativo. Se é uma boa canção, é uma boa canção.

PPS: Em Better Than Before vocês eram um quarteto. Agora, em Start Again, vocês são um trio e somente você permanece. O que aconteceu?

Frederick: Basicamente os outros caras não estavam interessados em continuar na banda. E realmente você precisa ser “um por todos e todos por um” para estar em uma banda. Então foi uma boa coisa que aqueles caras tenham deixado a banda!

PPS: Quais a s principais diferenças entre o primeiro e o segundo álbum?

Frederick: A banda agora é um trio em vez de quarteto! (risos).
De fato, acho que as canções estão muito melhores no segundo álbum. É um processo natural de composição. Você não deve ficar grudado em um trilho escrevendo sempre as mesmas músicas, como muitas bandas fazem!

PPS: Quando vi pela primeira vez a capa de Start Again eu pensei: “Bacana! Três bombas – carregadas de guitarras poderosas e melodias envolventes - caindo diretamente nas nossas cabeças!” Depois descobri que aquelas bombas (ou mísseis) eram na verdade a “3-Tie Logo”...

Frederick: Outras pessoas também pensaram que eram bombas... então, você não foi o único, Paolo!
Aquelas são “três gravatas”, mas elas podem ser o que você quiser que sejam. Eu acho que é uma representação bacana de como nos vestimos.

PPS: Vocês são de Detroit, um lugar com muitas bandas “na crista da onda”. Mas vocês soam diferente, com uma certa ‘desconexão’ da cena local. Como a crítica, o público, a indústria musical nos Estados Unidos têm recebido os Singles?

Frederick: Nós não soamos como os Stooges ou o MC5, coisa que muitas bandas de Detroit tentam, por isso é difícil nos incluir entre estes grupos. Para grande parte dos Estados Unidos não existem bandas que se pareçam conosco, e de fato, não existem bandas americanas que soem como nós. A maioria das composições apresentadas pelas bandas daqui não são realmente fortes. Mas nós temos mais resposta do público na Europa e no Brasil!

PPS: Vocês conseguem pagar as contas somente com sua música?

Frederick: Ainda não... é muito difícil conseguir isso agora. Nós ainda temos nossos trabalhos!

PPS: Conte-nos sobre sua atual turnê americana. Planos para uma turnê européia?

Frederick: Vamos rodar os Estados Unidos o máximo que pudermos. Estamos planejando uma turnê na Europa para o ano que vem, entre Fevereiro e Março, porque Start Again será lançado por lá oficialmente em 11 de Fevereiro.

PPS: Mande uma mensagem aos fãs brasileiros!

Frederick: Nós agradecemos por vocês ouvirem nossa música, adoraríamos tocar aí. Então, se vocês conhecerem alguém que pode nos levar, mande um e-mail para thesinglessounds@hotmail.com

sábado, 20 de outubro de 2007

"Rollo Time": ROLLO TIME!


Rótulos musicais sempre carregaram sua carga de subjetividade. E subjetivo é o power pop, mesmo em rodas de discussão entre “experts” do estilo. E um exemplo claro disso é o disco de estréia, homônimo, do Rollo Time, banda de Downers Grove, EUA, que tem sido carimbada como uma banda de “pop poderoso”. Projeto musical do cantor-compositor Jon Raleigh (o grupo conta também com Sean Black nas guitarras, Matt Sharp no baixo e Tony Gaetto na bateria) o grupo apresenta composições que desfilam o peso das guitarras afiadas do rock clássico até as melodias colantes do power pop, sem, porém, se pretender nem um nem outro.

Já na abertura do álbum, “Maintenance Free” satura nas guitarras e solta o falseto melódico no refrão até parar tudo no meio e só uma nota ao piano acompanhar a voz de Raleigh. “Float Down The River” acelera ao ritmo e convida a cantar junto até “Travel The World” dar uma meia-trava fluindo depois no chorus encorpado. “Don’t” tem uma quebra de ritmo estranha (lembrando quando Kurt Cobain acompanhava os movimentos instrumentais da música com a voz) para depois adocicar melodicamente. “Cut Me To The Quick” imprime pressão rock desaguando num belo refrão flutuante.

“Only If You Wanna”, “Be Careful” e “Digging My Garden” repetem o gosto de Raleigh em mesclar guitarras pesadas, riffs poderosos - e até algumas espetadas em solos mais invocados – com vocais agradáveis e harmonias de maciez pop. A acústica “Teach To Grow” remete às bandas de soft rock dos setenta mostrando a capacidade do Rollo Time de também tramar com delicadeza. “Moth & Butterfly” traz um ambiente épico-pop com um toque psicodélico nos vocais do refrão.

A mescla de elementos usada por Raleigh em suas canções trata de descarecterizar qualquer rótulo que se queira pregar no trabalho do Rollo Time. Rock vigoroso com guitarras afiadas e melodias pop envolventes não precisam de etiquetas; aqui, a rotulagem, fica ao gosto do freguês.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A linha de frente do power pop alemão: The Sealevel, Seaside Stars e The Monster Bronsons!


A imagem mental pré-concebida que temos de Berlin, é de um lugar frio, cinza e coalhado de alemães ríspidos e mal-humorados circulando onde no passado erguia-se o famoso muro. Pensamos também naquelas construções abandonadas onde os punks apropriam-se do local para promover seus shows anárquicos e violentos. Tal para qual: essa imagem se equivale a que os alemães têm do Rio de Janeiro - mulatas semi-nuas ao alcance da mão, sambistas esmerilhando seus pandeiros em cada esquina ou cobras atravessando as pistas nas faixas de pedestres.

Por isso, pensar em grupos interessados em melodias ensolaradas e harmonias angelicais, não sugere que elas possam vir da Alemanha, muito menos de Berlin. Mas é lá que a linha de frente do power pop alemão se organiza: The Sealevel, Seaside Stars e The Monster Bronsons. Todas capitaneadas pelo homem mutitarefa Hans Foster. E que não esconde a paixão por Beach Boys e Teenage Fanclub diluída na obra dos três grupos. A fixação por temas ligados à praia, sol, mar também conecta o trabalho da tríade. E assim como os conterrâneaos do gênero – Monkeeman e The Cheeks – cantam em inglês, conscientes da falta de delicadeza fonética da língua pátria.

No Sealevel, Hans divide os instrumentos com Maff (que também integra o Monster Bronsons), Berni e Dirk e apresenta o álbum Beach From Last Summer. O som do tic-tac do relógio na faixa título e de abertura parece retroceder o tempo até as praias da Califórnia dourada dos Beach Boys, onde os alemães parecem alcançar o nirvana de uma época e um lugar em que nunca viveram. A profusão de harmonias vocais caprichadas continua descendo pelo disco, acompanhadas por riffs de guitarras incisivos e melodias pop cativantes como ensinaram Teenage Fanclub, Velvet Crush ou Posies.

Já no Seaside Stars, Hans Foster faz dupla com Andi Schuwirth e chega ao seu segundo álbum com The Stranded Whale – o primeiro foi The Magic Stereo. Mas continua privilegiando as tramas melódicas do pop perfeito, agora um tanto mais acústico e reflexivo e se aproxima por vezes da fase mais madura do Teenage Fanclub, mostrada nos seus três últimos álbuns. Vai ficando clara a deliciosa obsessão de Foster pelo mar, pelo verão... e pelos fannies.

No The Monster Bronsons, Hans chama Mira, Sutti, Maff para completar a formação, adiciona um pouco de distorção e remete a sonoridade do grupo à fase 'Bandwagonesque' dos Fanclub. A banda ainda trabalha para editar seu primeiro trabalho, mas já disponibiliza uma versão em CD-R com 12 faixas. As melodias continuam inspiradas, a bateria acelera o ritmo e aparece a preferência por lugares ensolarados dos Estados Unidos para intitular a metade das canções do disco, como: “San’Cisco Bay”, “California”, “Hawaiian” e “Florida”.

Apesar da overdose de referências e influências do estilo, em nenhum momento as bandas se apresentam como “power pop”, contra-mão da tendência onde “cool” é ser rotulado como tal. Mas fica patente e inegável a força que o estilo vem tomando no país do chucrute e principalmente a projeção que o ‘trio de ouro’ começa a tomar fora de seu território. O novo power pop alemão não é só pra inglês ver.

www.myspace.com/thesealevel
www.myspace.com/seasidestars
www.myspace.com/themonsterbronsons

sábado, 6 de outubro de 2007

Power pop para os desabrigados do Katrina: SWEET RELIEF!


Não é comum no mundo do power pop projetos de ‘disco de caridade’ em benefício de alguma causa nobre, pelo simples motivo de a maioria das bandas do estilo serem meras desconhecidas do grande público – e às vezes elas mesmas estarem precisando de suporte. Mas Sweet Relief, uma coletânea tripla idealizada, produzida e compilada pelo cantor-compositor Jeremy Morris, serviu aos dois propósitos: arrecadar fundos aos desabrigados pela passagem do furacão Katrina e a dar espaço para bandas emergentes mostrarem a que vieram. Morris lançou o álbum através de seu selo Jam Records e reuniu grupos de 12 países diferentes, que cederam 74 faixas ao projeto.

O que se vê (ouve) aqui são desde bandas iniciantes – dispostas a mostrar o frescor no novo power pop - a conjuntos clássicos dos anos 70, que compareceram com faixas raras ou inéditas. Artistas carimbados do estilo também dão as caras na compilação.
No disco um a faixa de abertura “Float Me On The River” foi composta especialmente para o disco, pelos veteranos Shane Faubert, Gary Pig Gold e Jeremy Lee; o Maple Mars vem com a música de contornos psicodélicos “Breath Deep”; a dupla Seth Swirsky e Mike Ruekberg do The Red Button traz o pop viajante “Free”; os israelenses do Rockfour entregam no título a quem eles tentam soar em “Where The Byrds Fly”; a new wave turbinada das garotas do Nushu em “Spill”; o “Teenage Fanclub alemão” Seaside Stars colabora com “Kick Out” (você vai jurar que é o Gerard Love quem canta...); os australianos Tamas Wells comparecem com a mais bela canção da coletânea – e provavelmente do ano – “Valder Fields”; o casal do Florapop Mark e Lisa mostram mais uma canção pop perfeita para corações sensívies, “Walk Upon Yourself”; também desfilam no disco nomes mais conhecidos como Phil Angotti, Bobby Sutliff, Herb Eimerman, The Shambles e o próprio Jeremy Morris.

No disco dois destaque para o Somerdale e a acústica “Over The Ocean”; a upbeat sessentista de refrão colante “My Heart Belongs To You” executada pelo casal sueco Michael a Johanna Klemme do Marmalade Souls; a enérgetica “Be All That” dos The Crash Moderns; a pesada e envolvente “Those Strings” do Static Halo; a divertida e dançante “Two Green Eyes” dos suecos The Mop Tops; Fran Smith Jr. And The Ten Cent Millionaries vem com a maccartiana “Leonardo”; Chris Richards e sua cativante “Leave It Up To You”; o refrão candidato a hit de “Carry You 2” é capitaneado pelo Rich Arithmetic; a versão demo rara de “Star Bright” do Barclay James Harvest; a climática e orquestral “Doodlebugs” apresenta os ingleses do The Colonial Movement Company; além de faixas clássicas do DM3, Spongetones, Gary Pig Gold e canções conhecidas do Farrah, Zinedines e Sweet Apple Pie.

O terceiro disco abre com a nova de John Wicks (The Records) “So Close To Home”; a harmônica “Eye Eye” saiu do novo álbum do Lolas; soando como as bandas setentistas de power pop, Richard Orange aparece com “All The Way From China”; o mestre Jeff Murphy (Shoes) não perde o traquejo pop na sua nova canção “Never Let You Go”; a emocionante “Sweet Relief”, escrita para a compilação pelo chefe Jeremy Morris; o tesouro mais bem escondido da coletânea, inédita por 30 anos, é sobra de estúdio do primeiro álbum dos canadenses do Klaatu - na época, 1976, dizia-se que na verdade os membros eram os ex-Beatles escondidos sob pseudônimos - o que pode sugerir o tamanho da preciosidade pop da magnífica “There’s Something Happening”; a trinca de power pops perfeitos talhados com maestria por novatos de cantos diferentes do mundo: “Spice” dos franceses do Mama Got Five, “You (And Everything You Do)” dos suecos do The Tor Guides e “Shooting Star” dos australianos do Magneto; William Pears entrega direto da França acordes agradáveis e refrão pop em “Sinisterville”; a rara “A Voice Inside Me” dos Shoes; contribuíram ainda artistas reconhecidos no mundinho power pop como The Fire Apes, The Oohs, Sparkwood, Pop Is Art e Ed James.

Depois de quase de quatro horas de imersão em melodias memoráveis, harmonias celestiais, guitarras energéticas e vibrações revigorantes, fica a certeza de que Sweet Relief vai além de reconfortar desabrigados do Katrina: aquece os corações mesmo daqueles que parecem abrigados e confortáveis na segurança do seu lar.

Para a lista completa de artistas e músicas: www.myspace.com/sweetreliefcharitycd

domingo, 30 de setembro de 2007

O garoto prodígio de L.A.: BLAKE COLLINS!



Quando o sonho acabou e a mais influente banda de todos os tempos já não existia, seus integrantes nem aos 30 anos haviam chegado. Mudaram definitivamente a história da cultura pop, da música e do comportamento jovem. Genialidade que mais translúcida ficava pela precocidade. Inspirado pela sonoridade destes jovens de 40 anos atrás, o garoto prodígio de Los Angeles Blake Collins começa a dar as caras.

Quando aos sete anos colocávamos cuidadosamente nosso time de futebol de botão em campo e manejávamos com destreza a paleta em busca do gol, Blake já sabia escolher as teclas certas do piano. Aos oito, empunhávamos o sabre de luz de Luke Skywalker enquanto Blake afinava sereno sua guitarra. Aos 11, íamos extasiados ao ritmo de River Raid, enquanto Blake é quem ditava o ritmo com sua bateria. Três anos depois Blake aprendeu a tocar baixo a começou a compor. Nós devíamos estar em alguma festinha do bairro tentando parecer cool com as sapatilhas do Michael Jackson.

Hoje Blake Collins é um senhor de 23anos. Lançou um EP homônimo onde tocou todos os instrumentos, se autoproduziu e registrou tudo em um gravador de oito canais. Como seus contemporâneos, poderia estar extravasando sua rebeldia no três acordes de uma banda punk. Ou chorando as pitangas em um grupo emo. Mas o compositor americano impõe sua maturidade em canções como “There’s Nowhere Like Here”, onde impregna o ambiente com uma melodia contagiosa e é capaz de soar como um jovem John Lennon. Depois voa com seu banjo bucólico na acústica “It’s Summer Time” em uma declaração de amor singela.

A instrumental “Olive” traz acordes envolventes e não precisa de mais de um minuto e meio para te fazer flutuar e levar até “Time Goes By” onde o cenário é parecido com os pintados pelas bandas da Elephant 6, e onde uma voz amigável e radiofônica parece saída direto dos anos sessenta. “Anticipating Loving You Again” sela com sua suavidade acústica a destreza do multiinstrumentista no manejo das harmonias e melodias de sonho.

Para breve Collins promete seu primeiro álbum, e parece que a responsabilidade de superar as expectativas pesa como uma pena nas costas da sua precocidade.

www.myspace.com/blakecollinsband

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Entrevista Exclusiva: SPLITSVILLE!


Se houve uma banda no mundo capaz de livrar o power pop do seu complexo de underground e alcançar o topo das paradas mundiais, essa banda foi o Greenberry Woods. Nunca o estilo teve um representante tão apto às rádios, ao cinema, às séries de TV, à cultura jovem, sem soar brega ou comercial – apenas jogando com a capacidade da conexão emocional de uma boa melodia pop. Mas, depois de lançar seu segundo disco, em 1995, e obra mestra, Big Money Item, a banda desmoronou pela própria incapacidade de sobrepor as aspirações coletivas às individuais. Acabou alimentando crendices como a “maldição do power pop”, já que, aliado ao forte potencial pop, tinha apelo visual e uma grande gravadora por trás e, mesmo assim, sucumbiu (argumentações que agora provam-se definitivamente falíveis, já que melodias pop podem não ser populares e majors que não apóiam, atrapalham).

Das cinzas do Greenberry (ou na verdade antes delas, como descobriremos na entrevista) os gêmeos Matt Huseman (guitarra e vocais) e Brandt Huseman (bateria e vocais) deram vida definitiva, em 1996, ao Splitsville, adicionando à formação o técnico de guitarra Paul Krysiac (baixo e vocais) e, cinco anos depois, o guitarrista Tony Waddy. Mesmo soando menos pop e mais power que o Greenberry, a banda de Baltimore manteve a habilidade em compor canções de melodias envolventes e refrãos ganchudos. E por mais irônico e contraditório que possa parecer, o Splitsville, no mundo real, chega mais próximo aos desejos da juventude moderna em termos musicais - ao forjar seu som com um sotaque punk, menos polido, mais ferino e incisivo - que o antigo grupo dos Huseman.

Com exceção da homenagem ao pop sessentista cristalizada no álbum The Complete Pet Soul de 2001, considerado o ponto alto artístico do Splitsville. Ali o quarteto produziu magistralmente uma sonoridade híbrida entre os clássicos eternos Pet Sounds e Rubber Soul, reproduzindo o clima inventivo e emotivo sem apresentar-se como um pastiche.

Em 11 anos de carreira, a banda americana gravou cinco álbuns cheios e duas coletâneas “com o melhor de”, sendo que a segunda Let’s Go! The Best Of Splitsville acaba de sair nos Estados Unidos e Austrália. Power Pop Station conversou, com exclusividade, com Paul Krysiac, Matt e Brandt Huseman, que contaram os motivos para o fim do Greenberry Woods, opinaram sobre o “fracasso comercial” do power pop, falaram a respeito do processo de criação e gravação da obra-prima The Complete Pet Soul e de seus planos futuros.


Power Pop Station: Que tipo de música a família Huseman ouvia em casa? Quando Matt e Brandt começaram a mostrar suas habilidades musicais?

Brandt Huseman: Me lembro que quando criança eu ouvia muito os musicais da Broadway. O primeiro disco de 45’ que eu comprei foi Sgt. Pepper e Matt comprou um single dos Beach Boys. Nós éramos grandes fãs de Beatles na infância, e meus pais trouxeram as versões inglesas dos discos quando viajaram para a Grã-Bretanha. Também éramos muito fãs do Police. Mais tarde, na adolescência, Matt começou a ouvir Elvis Costello, enquanto eu descobria The Replacements e Hüsker Dü.

PPS: O Greenberry Woods foi uma das maiores bandas de power pop dos últimos 15 anos. O álbum Big Money Item parece até um “the best of”... vocês assinaram com uma grande gravadora (Sire/Warner) e tinham um grande potencial para alcançar o topo das paradas. Mas banda se separou. O que houve?

Brandt: Esta é uma longa e complexa história, e, resumidamente, nós não éramos prioridade para a gravadora e a banda não tinha ainda uma sólida base para ir em frente. É difícil manter uma banda junta com três compositores e sem um líder efetivo – se conseguíssemos ser melhores conjuntamente do que individualmente e acreditado naquilo que estávamos fazendo, provavelmente teríamos superado a falta de comprometimento da Sire/Warner e seguido em frente.

PPS: Fale-nos sobre o processo de transição entre o Greenberry Woods e o Splitsville.

Brandt: Isso é muito simples: um dia, enquanto esperávamos a decisão da Sire sobre onde iríamos fazer o segundo álbum do Greenberry Woods, eu disse ao Matt que poderíamos começar uma nova banda somente para nos divertir. E assim fizemos.

Paul Krysiak: Nós escrevemos todo o primeiro álbum do Splitsville em três ou quatro tacadas. Com Brandt mudando do baixo para a bateria e eu indo da guitarra para o baixo... íamos gravando antes de saber como tocar as canções.

PPS: Quais suas principais influências e referências? E quais novas bandas vocês recomendam?

Brandt: Quando o Splitsville começou éramos unidos pelo amor ao Guided By Voices. Todos nós gostamos de diferentes tipos de música, mas temos muito em comum. Paul nos mostrou o novo álbum do Midlake, do qual gostamos muito. Eu tenho ouvido jazz clássico, então não posso recomendar muitas bandas novas.

Paul: Eu acho que o Who e o Jam também tiveram grande influência sobre nós, especialmente seus primeiros álbuns.
Algumas novas bandas têm tocado bastante na minha casa, como The Decemberists e Arcade Fire – ambos artistas ambiciosos. E tem uma grande banda power pop de Los Angeles chamada The World Record.

PPS: Por que um gênero como o power pop (cheio de ganchos, melodias colantes, harmonias aeradas e guitarras rascantes) não alcança o “sucesso comercial”?

Paul: Por alguma razão, as pessoas parecem sentir que não podem levar o estilo a sério.

Brandt: Provavelmente não é (o power pop) “afiado” o suficiente para a maior parte das pessoas. Na verdade eu também não estou certo do que este rótulo significa...

PPS: Como funciona seu processo de composição?

Brandt: Cada canção é diferente. Escrevemos músicas juntos e separadamente. Algumas nós compomos no estúdio e algumas nós mapeamos cada parte de antemão.

PPS: Na minha opinião o álbum de The Complete Pet Soul é sua obra-prima. Conte-nos sobre o processo de gravação, as músicas, as histórias...

Matt Huseman: Originalmente gravamos as canções “Overture”, “Sunshiny Daydream”, “Caroline Knows” e “The Love Songs Of B. Douglas Wilson” no Invisible Sound Studio, usando o tempo livre da gravação de um anúncio para um jornal local. Ali não houve nada programado, nós só queríamos nos sentir tentando algo diferente. Acho que foi Brandt quem sugeriu a idéia de fazermos um som como os Beach Boys e os Beatles faziam na metade dos anos sessenta, mas não me lembro de nenhuma intenção verdadeira em lançar as músicas. Nosso selo na época gostou muito do trabalho e mandou prensar cópias para serem distribuídas gratuitamente no festival Poptopia, em Los Angeles. Nós chamamos o EP de Pet Soul, como um amálgama de Rubber Soul e Pet Sounds.
Como o disco foi muito bem recebido, nós decidimos suceder Repeater com uma versão longa do EP. Terminamos gravando as faixas restantes no estúdio de Andy Bopp. Ele trabalha rápido e nós queríamos que as gravações tivessem um sentimento de espontaneidade.
Eu peguei canções que já havia escrito e aplicamos à elas uma produção pop dos anos 60. Acredito que Paul e Brandt compuseram especificamente para o álbum.

Paul: Sim, eu acho que Brandt e eu tentamos escrever nosso material especificamente, com o som de Pet Sounds e Rubber Soul em mente. Eu apenas me perguntava como eu comporia se estivesse tentando colocar uma canção em um disco dos Herman's Hermits ou do Association. No caso de “You Ought To Know” tentei imaginar que era uma canção saída das sessões de gravação de Revolver.

PPS: Incorporated, seu último álbum de inéditas (lançado em 2003), alterna gemas pop com canções realmente rascantes. Como a crítica e fãs nos Estados Unidos receberam o álbum?

Matt: Foi bem recebido tanto pela crítica como pelos fãs, mas nós confundimos a todos lançando como sucessor de nossa homenagem retrô aos sixties (The Complete Pet Soul) um álbum que estava mais para o sucessor natural de Repeater.

PPS: Agora vocês estão promovendo seu novo lançamento, a coletânea Let’s Go! The Best Of Splitsville. Fale-nos sobre o disco e onde pretendem levar a turnê. Planos para um álbum de inéditas?

Brandt: Nós estamos sacudidos com a idéia de gravar um álbum com novas canções. Não queremos dar uma data, temos medo de comprometimentos.
Não temos planos para uma turnê americana, mas temos esperança de visitar a Austrália, e possivelmente o Japão, no começo do ano que vem. A coletânea é sólida e uma ótima maneira de se conhecer a banda.

PPS: Uma mensagem para os fãs brasileiros:

Splitsville: Obrigado por ouvir nosso trabalho!!!

http://www.splitsville.com/
www.myspace.com/splitsville

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

"3: The Mordorlorff Collection" - THE KRINKLES! (2)


Há alguns meses atrás, publiquei um comentário a respeito da banda de Chicago The Krinkles, indicando o seu novo disco e dando pistas de como a banda soava.
Mês passado o baterista do grupo Matty Favazza entrou em contato e gentilmente me enviou uma cópia de 3: The Mordorlorff Collection, dando a oportunidade de destrinchar o álbum de forma mais ampla e consistente como você verá abaixo:

3: The Mordorlorff Collection – The Krinkles.

Não é novidade que o maior celeiro do power pop americano - e mundial – é a Califórnia. E dentro do estado mais famoso do Tio Sam, artistas e bandas concentram-se majoritariamente na área de Los Angeles.
A surpresa dessa história fica por conta da emergente e já enorme cena de Chicago: é bem possível que a cidade seja hoje a segunda produtora de power pop nos EUA, com dezenas de novas bandas pipocando a cada instante. E é desse cenário em ebulição que vem os Krinkles e seu esfuziante terceiro álbum.

Dan “The Fox” Edwards (guitarra e vocal), Henry Klotkowski (guitarra e vocal) Jerry Overmyer (baixo) e Matty Favazza (bateria e vocal) mesclam com habilidade suas referências sessentistas e setentistas: chocam a maestria pop dos Beatles com a contundência rock do Cheap Trick; trazem a diversão do glam rock colada em melodias ganchudas e memoráveis. Tudo energizado com 1000 volts de urgência punk, como a empolgante faixa de abertura “Dirty Girl”, que sabe ser agressiva e amigável, tudo ao mesmo tempo agora. Candidatas a hit pululam: são as guitarras rascantes, melodias contagiantes refrãos assobiáveis de “Stay With Me”, “Gimme Gimme”, “I want You” e “Today Is The Day”.

Desaceleram na balada “Blinded By Love”, na acústica “Closer To Here Than There” e contrabalançam “Listen To The Future” com doses iguais de aridez western e adrenalina rocker. Nas faixas bônus as versões demo das poderosas “So... Goodbye” e “Outerspace”; uma cover turbinada de Rick Springfield “Love Is Alright Tonite” e “Blinded By Love” ao vivo.
Se o exemplo de pegada e disposição dos Krinkles contaminar toda a nova geração de bandas vindas de Chicago, o reinado absoluto dos californianos estará correndo sério risco. E a um prazo mais curto do que se possa imaginar.

www.myspace.com/thekrinkles

terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Waiting For The Hurricane" - THE RUNAROUNDS!


Muitos puristas consideram o verdadeiro power pop aquele produzido nos anos 70, década do nascimento do estilo. E gostam de dar destaque às bandas surgidas após 1977, quando ao “power” do gênero foi adicionado doses massivas da urgência primária do punk. O que se viu depois foi o choque das guitarras toscas e faíscantes com melodias pop e adesivas; batidas nervosas e aceleradas com coros beirando o celestial.

O resultado dessa trombada sônica ecoa trinta anos depois neste Waiting For The Hurricane, segundo álbum dos espanhóis de Múrcia – e que cantam em inglês - , The Runarounds. Liderados pelo multiinstrumentista Álvaro del Campo (que compôs, gravou, mixou e produziu todas as faixas) o grupo segue na estrada há treze anos, e hoje conta, completando a formação, com Tony Garcia nas baquetas e David Rubio no baixo.

Lançado pelo incansável selo de Madri Rock Indiana, o disco tem energia para iluminar uma cidade de 100.000 habitantes por um ano. Guitarras flamejantes cuspindo acordes simples e diretos de pontaria certeira: suas fibras corporais. É difícil se livrar das melodias grudadas no córtex cerebral e não se impressionar com as harmonias vocais aflorando sutilmente em meio ao poder (quase) onipresente da distorção.

“Estão preparados?” Pergunta Del Campo. “É algo como isso:”. E a pressão sonora de “Where The Sun Always Shines” abre as comportas do álbum de 16 faixas eletrizando o ambiente. Já os refrãos e as harmonias de “Hang On”, “All The Time”, “Comin’ Round” e “Someday” foram feitas para 10.000 vozes em coro. Mellotrons e órgãos Hammond também são ouvidos na ornamentação das canções. Algumas marcadas pelo potencial radiofônico, como “Felicity” e “I Will” ou pelo toque psicodélico na levada, como “Take A Look”. Escondida, a faixa bônus despluga amplificadores, capricha na harmonização vocal e na beleza dos acordes, irradiando força suficiente para iluminar... o seu coração.
www.myspace.com/therunarounds

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Happy-Go-Unlucky - JOHN CUNNINGHAM!


O inglês de Brighton, John Cunningham, pode ser colocado no panteão dos gênios pop desconhecidos do grande público mas perfeitos para aquecer nossos corações. Lançado em 2002 e de volta ao catálogo em 2006, Happy-Go-Unlucky, quinto álbum do artista, é a obra-prima que Paul McCartney não faz há tempos e que alcança o nível dos clássicos de David Grahame e Emitt Rhodes.

Cantando suas crises existenciais, Cunningham prepara arranjos, melodias, harmonias com comovente sensibilidade e delicadeza. Uma profusão de pianos Hammond, Rhodes, órgãos, instrumentos Rickenbacker adornados por violinos, violas, cellos e metais.
Na tristeza bela e profunda, e na voz acetinada, o inglês se assemelha a Elliott Smith – como em “Here It Is”, “Can`t Get Used To This”, “It Isn`t Easy”, “Invisible Lives”, “Take Your Time” e “It Goes On”.

As “maccartianas” são: a abre-alas “Losing Myself Too”, a emocionante de refrão “todo mundo junto” “Way To Go”, a batida de valsa com harmonias vocais perfeitas de “You Shine” e a de acordes cativantes e chorus celestial “Welcome To The World”.
Tudo o que os fãs dos Beatles adorariam que, aos 64 (65,66,67...), o velho Macca estivesse fazendo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

"Songs From The Brill Bedroom" - CORIN ASHLEY!


A estréia solo de Corin Ashley soa claramente como um desafio pessoal. Líder da banda de Boston The Pills, Ashley partiu cheio de ambição para o projeto solitário, trazendo uma coleção de canções inspiradas. Carregado de influências diversas – de Dylan a Zombies, de Neil Young a Who – Songs From... presta-se como desafogo criativo e comprovação da verve pop do compositor. O trabalho teve (além da banda de apoio, nomeada The Dirty Ticket), a mixagem do ex-The Boo Radleys, atual Brave Captain, Martin Carr e a presença da “power pop star” Paula Kelley nos backings vocals.

Servindo como uma espécie de catalisador de referências e cartão de visitas, a faixa “Gin & Panic” sintetiza em seus quase cinco minutos de duração as intenções do álbum. A pegada melancólica de trovador, as variações de notas e acordes do pop clássico, o clima country/americana no ar. Emendando vem a já clássica (por aparecer um ano antes na coletânea I.P.O. vol.8) “File Me Under Regret”, seguindo por uma sucessão de faixas acústicas, “Foolproof”, “The Royal Standard”, “Little Runaround”, “Being Twelve”, o disco parece tomar um caminho sem volta – de beleza árida, que às vezes parece mais branca pela neve que poeirenta como o deserto.

Até a chegada de “Her Mercury Smile”, seus teclados sixties desaguando no harmônico chorus que prepara terreno para o power pop arrasa-quarteirão de refrão memorável “Ladybug’. Na reta final do disco retorna a beleza triste à la Neil Young em “Your Moment Of Weakness” e “The Cure For Cambridge Common Cold”. Na homenagem “For Roy Orbinson” Ashley encarna Eric Carmem e soa como os Raspberries em balada orquestral. Encerra o álbum com a singela “Daddy’s Song”, de Harry Nilsson. E com a moral alta para retornar ao seu posto no Pills.

http://www.corinashley.com/
www.myspace/brillbedroom

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Entrevista Exclusiva: ANDREW (SANDOVAL)!


Quando os calendários começaram a marcar o início anos 70, os Beatles já eram passado. Os Beatles e toda a cultura sixtie que acabara de mudar o mundo. Mas a força do seu legado teria capacidade para criar um batalhão de anacrônicos nos 40 anos seguintes. Os saudosos de um tempo em que não viveram. Aí se encaixa Andrew Sandoval. Andrew – artisticamente, como músico, utiliza só o primeiro nome – exercitou sua paixão pelos anos 60 em diferentes atividades e pautou a diretriz de suas diversas carreiras na época de ouro daquela década.

Recentemente lançou o aclamado livro “The Monkees: The Day-By-Day Story Of The 60’s TV Pop Sensation”, que conta a história da banda em formato de diário. Sandoval também ficou conhecido pelo trabalho de produtor de relançamentos de bandas dos anos 60 – dezenas delas. Como músico, influenciado por toda essa aura sessentista – lançou quatro álbuns, entre eles a obra-prima do pop orquestral e do sixtie pop Happy To Be Here e o recente From Me To You, com roupagem mais acústica, que acaba de sair do forno.

Andrew conversou com o Power Pop Station com exclusividade direto de Los Angeles:


Power Pop Station: Você é um cantor-compositor, produtor, escritor e agora DJ em uma rádio. Certamente todas essas atividades têm seus diferentes prazeres. Mas se eu pedir para você escolher uma opção, podemos dizer que Andrew Sandoval é...?

Andrew: Andrew Sandoval é um cantor-compositor.

PPS: Para quais mestres você presta homenagem em seus discos? Fale-nos também sobre os seus “famosos” colaboradores.

Andrew: Eu presto homenagem para pessoas como Michael Brown e Left Banke, P.F. Sloan, The Kinks, Beach Boys, Grapefruit e muitos outros.
Tenho trabalhado com Dave Davies dos Kinks, Ric Menck do Velvet Crush/Matthew Sweet, Dennis Diken do Smithereens, Brian Kehew (que produziu Fiona Apple e recentemente tocou teclados para o The Who), Probyn Gregory e Nelson Bragg (que tocam com Brian Wilson), Jon Brion e muitos outros menos famosos, mas pessoas também incrivelmente talentosas.

PPS: Sendo um produtor de relançamentos de, principalmente, bandas sixties, você deve ter absorvido um grande conhecimento musical, claramente percebido em seus álbuns. Como você trabalha suas referências e influências no seu processo de composição?

Andrew: Sou um estudioso sobre produção dos anos 60 e técnicas de gravação, muitas das quais colhidas durante meu trabalho como produtor de relançamentos. De qualquer modo, minhas composições são mais influenciadas pelo meu dia-a-dia. Mas desde que a música dos 60 passaram a fazer parte do meu dia-a-dia, as canções passaram a ter esse tipo de som. Mas as letras falam sobre mim e meus amigos – não sobre os sixties.

PPS: Seu livro The Monkees: The Day-By-Day Story Of The 60’s TV Sensation, teve ótimas resenhas da crítica. Fale-nos sobre este trabalho.

Andrew: É um projeto em que trabalhei durante 15 anos. Para escrevê-lo, escutei todas as fitas com sessões de gravação que existem, passei um pente fino em milhares de revistas e entrevistei dúzias de pessoas envolvidas na história da banda (inclusive os quatro Monkees). O livro segue um formato de diário, com acontecimentos tendo entradas dia após dia. (muito parecido com o livro de Mark Lewinshon sobre os Beatles).

PPS: Suas influências do passado são mais explícitas na sua música. Do presente, quais bandas você escuta e quais recomenda?

Andrew: Eu gosto do Now People. É banda que tem Steve Stanley, Probyn Gregory e Nelson Bragg. Todos tocam e cantam no meu novo álbum From Me To You.

PPS: Na minha opinião o disco Happy To Be Here é sua obra-prima. Fale-nos sobre o álbum.

Andrew: Primeiramente, obrigado por dizer isto. Happy To Be Here é um álbum especial para mim. Foi o primeiro onde eu me senti realmente confiante no estúdio. E escrever as canções foi uma alegria. A maioria delas foi sobre um par de anos da minha vida onde eu tive um lar feliz e alguns amigos maravilhosos. O disco conta com a participação de Tom Dawes do Cyrkle cantando em “He Can Fly”, que é uma canção sobre um gato chamado Duke. Roger Neil fez alguns bonitos arranjos de cordas e David Nolte e Ric Menck soaram incríveis na seção rítmica em todas as canções. Eu adoro a faixa de abertura "I Wish You Would". Acho que eu queria que alguns dos meus ouvintes se apaixonassem com o disco, e no final deu certo com pelo menos um!

PPS: Basicamente o power pop é um gênero que tem o DNA do sixtie pop. Porque esse estilo tão radiofônico não tem sucesso comercial?

Andrew: Eu acho que as pessoas são muito auto-conscientes para desfrutar o simples, a música direta. Todo mundo está preocupado em balançar as ancas, estar afiado e ser irônico. É um prejuízo para eles. As coisas simples são as melhores coisas da vida.

PPS: Em maio você fez alguns shows na Espanha. Conte-nos sobre a tour.

Andrew: Esta foi minha primeira viagem para a Espanha! Fiz cinco shows em cinco cidades (Madrid, Valencia, Barcelona, Zaragoza e Bilbao) em cinco dias. Levei meu amigo Kristian Hoffman para tocar piano. Todas as pessoas que eu conheci, e a reação delas, foram fabulosas. Colin Hare do Honeybus também esteve conosco, o que foi bastante especial.

PPS: Fale-nos sobre seu novo álbum From Me To You.

Andrew: É um ‘ciclo de canções’, como Happy To Be Here. Todas as canções estão conectadas por um tema central. O álbum foi gravado ao vivo no estúdio comigo cantando todas as faixas em um take – sem consertos ou mudanças. Na verdade não é um disco de rock ou power pop, é apenas um disco pessoal. Muitas guitarras acústicas e cordas, além de alguns bonitos backing vocals. Acho que é meu segundo disco favorito depois de Happy To Be Here.

PPS: Mande uma mensagem aos brasileiros!

Andrew: Alô Brasil! Eu adoraria ver todos vocês um dia. Eu sei que existem alguns fãs dos Monkees aí, então talvez eles possam ajudar na minha divulgação. Confiram meu website: www.andrewsandoval.com
Obrigado pela entrevista - e a todos, OBRIGADO POR OUVIR MEU TRABALHO!

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

"Esperando El Fin Del Mundo": RUBIN!

O que esperar de um sujeito que odeia o amor, o sol e as canções de Paul? E que no minuto seguinte quer se apaixonar até perder o controle e a razão?
Rubin não veio para explicar. Embalou desacertos amorosos com as mais solares melodias e aeradas harmonias. Desprezou o amor, e com um pop perfeito, reconquistou. Renegou Paul, e com notas e acordes, reverenciou.

Rubin veio arrebatar. Enquanto espera pelo fim do mundo balançando-se na rede do quintal, o compositor argentino de Buenos Aires exercita sua habilidade em lapidar gemas pop recheadas de perdas e desilusões - em seu primeiro álbum cheio.
Ele morde e assopra; dissimula, consola sendo inconsolável; é agridoce.

Rubin é atemporal: empacota o formato digital com estética sixtie dos tempos de vinil. Moderniza o passado, soa clássico sem soar retrô.
Desde sua ex-banda, o Grand Prix, Sebástian Rubin aprendeu o manejo dos sentidos alheios, colocando sorriso em rostos e corações – mesmo que utilizando-se da constante contraposição de estímulos.

Porque tem um inconsciente senso cósmico para captar e produzir canções memoráveis.
É a destreza de um artesão que parece confundir mas conforta, com notas, acordes, arranjos e rearranjos para nossa vida parecer melhor.

terça-feira, 24 de julho de 2007

THE FADE-OUTS - "The Fade-Outs"

Descendo a onda post-surf music dos Beach Boys, o combo americano, formado por sete músicos de Boston, reverencia o mestre Brian Wilson em seu primeiro álbum (lançado pela Naked Ear Records, selo criado pelo estudantes The New England Institute of Art de Brookline, Massachussetts).
Seguindo a linha dos contemporâneos Wondermints e Heavy Blinkers, o Fade-Outs navega na beleza plácida de canções recheadas de climas oníricos, melodias macias e harmonias vocais intrincadas, como em “At Home”, “Summer Girl”, “Rainy Days” e “Camelot”.

Instrumentos vintage, pianos Rhodes, ukeleles, banjos permeiam o universo sonoro do grupo. Já “Back To Normal” e seu esperto jogo de metais cria ambiência dançante dos anos 70. “Turn It Over”, pegando a contramão, volta aos tempos de garotas, sol e carrões - a era de ouro da surf music. “Laughter”, “Anything You Can Do” e “Wink & A Smile” estão mais para Steely Dan que Beach Boys. Mas não afastam o Fade-Outs das missas na igreja do reverendo Brian Wilson.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Entrevista exclusiva: DAVID GRAHAME!


A chave de muitos mistérios da vida está quase sempre pendurada na porta, engatilhada na fechadura esperando para ver quem é capaz de virá-la.
Todo dia nos perguntamos porque determinados artistas – maestros da canção pop perfeita – permanecem sob o manto de invisibilidade do anonimato ou porque algumas bandas supostamente mais pop do que outras não são igualmente populares. O cantor compositor David Grahame faz parte desse grupo de artistas, que deixam seus fãs tentanto resolver problemas de raciocínio lógico com técnicas de astrologia barata.

O americano nos fala de seus tempos de “Paul McCartney” em uma produção da Broadway; de seu grupo The Mix; de seus álbuns solo – e a desistência do lançamento de seu novo disco; da sua composição que alcançou o número um da Billboard, na interpretação da banda Mr. Big e as comparações de seu trabalho com o de Sir Paul. Nessas últimas duas abordagens é onde se esclarecem as perguntas básicas sobre Grahame: produzindo canções na linhagem de McCartney - composições de beleza impressionante, com melodias perfeitas, harmonias inspiradoras - não estaria o músico fazendo hoje o que o beatle deveria estar? E porque essas mesmas canções, de alto potencial pop, nunca conseguiram chegar ao topo das paradas?

Direto de Los Angeles, e com exclusividade para o Power Pop Station, Grahame gira a chave na fechadura do mistério e deixa clara sua consciência em relação aos seus erros, sua capacidade, as comparações com Paul McCartney e o caminho do sucesso.
(Clique nos links para ouvir os samples)

Power Pop Station: Você ganhou sua primeira guitarra aos 12 anos. Naquele ano os Beatles ainda estavam juntos? Quem eram seus heróis da música na época?

David Grahame: Sim, o ano era 1969 e os Beatles ainda estavam juntos. Meus heróis na música naquela época eram, primeiramente, os Beatles e os Rolling Stones. Mas eu também gostava muito de Jimi Hendrix, Crosby, Stills and Nash e era um grande fã de AM radio. Eu fui muito influenciado pelo top 40 daquele ano. Meus gostos musicais, definitivamente, foram formados em 1969.

PPS: Nos anos 70, você “foi Paul McCartney” na produção da Broadway Beatlemania Conte-nos como foram essas apresentações.

Grahame: O show, como você sabe, foi o primeiro tributo aos Beatles e o antecessor de todas as “bandas beatle” que viriam a seguir. Hoje fico impressionado como o show influenciou as bandas cover dos Beatles.
Como músico, eu curti estar no show, mas foi muito estranho estar usando o guarda-roupa dos Beatles. Por ser uma produção da Broadway, o som e o show em si, tinham diretrizes de performance muito rígidas. Era tudo muito “controlado”. Então, para a audiência o som era estéril, suave e linear. Eu teria preferido que a banda apenas fosse capaz de “reduzir a frouxidão” e tocar rock and roll do jeito que os Beatles faziam. Aquilo era um pouco limitante.
Minha função era substituir o ‘Paul’ original do cast (Mitch Weissman), que estava recuperando-se de uma cirurgia na garganta. Eu na verdade atuava com dois membros do cast original (Leslie Fradkin e Joe Percorino), como um cast substituto. Durante um tempo foi muito divertido, mas depois comecei a me sentir um animal enjaulado. Eu queria sair por aí e conhecer músicos melhores. Àquela altura eu estava com 19 anos e queria ser levado a sério. Eu também ficava inquieto sabendo que o verdadeiro John Lennon vivia a apenas algumas milhas de distância do teatro. No fim acho que fui o único membro do cast que deixou a produção por escolha própria.

PPS: Você tocou na banda novaiorquina The Mix, abriu shows para Elvis Costello e Pretenders. Fale-nos sobre esse período.

Grahame: Foi uma trajetória selvagem. Numa tacada certeira, o Mix assinou com a produtora Leber/Krebs, que na época cuidava dos interesses do AC/DC, Def Lepard, Ted Nugent, Michael Bolton, Aerosmith e muitos outros. Aliado a isso, nosso baterista, Corky Laing, já era uma espécie de lenda do rock and roll. Então, rapidamente, fomos empurrados para situações muito profissionais. Tocamos bastante e abríamos shows para artistas de nome sempre que podíamos. Logo nos tornamos uma mercadoria ‘muito quente’. Infelizmente divergências internas vieram à tona com rapidez, o que nos impediu de assinar com um grande gravadora. Acabamos fazendo um álbum por conta própria, com ajuda do produtor Felix Pappalardi. O disco foi bem regionalmente, e nossa cover de “Chain Of Fools”, de Otis Redding, arrebentou na parada da Billboard. E, no final, saí com os Stones, fiz uma jam com o John Belushi e conheci o Christopher Reeve. Então, não foi de todo ruim.

PPS: Nós falamos de sua participação no Beatlemania, onde você “era” Paul McCartney. Quando eu apresento seu nome e sua música - para amigos ou leitores – eu digo: “esse cara faz a canções que Sir Paul não fez” ou, “ele escreve a s músicas que Macca deveria estar escrevendo”. Qual sua relação com a música de Paul, e o que você acha destas comparações?

Grahame: Sempre me dizem que minhas canções são as canções que Paul McCartney deveria estar escrevendo, ou que minhas canções atualmente são melhores que as dele. Não concordo. Eu não posso comparar meu talento com o homem que escreveu “For No One” e “Penny Lane”. Eu não posso comparar meu talento com o homem que cantou “Maybe I’m Amazed”. Isso é loucura.
O que acredito é que minha música segue o caminho musical dos Beatles, enquanto Sir Paul seguiu seu próprio caminho musical. Se eu me importo com as comparações? Sim, mas eu acho que depois de oito álbuns eu provei aos meus ouvintes que eu não sou apenas uma personificação de McCartney... eu espero (risos).

PPS: Como funciona seu processo de composição?

Grahame: Eu componho quase que exclusivamente numa guitarra acústica. Quando chego ao ponto, abro no computador uma página do Cubase Áudio e coloco a primeira idéia que me veio à cabeça, sem edição. Aí adiciono a bateria, o baixo, algumas harmonias, e se alguma coisa vale a pena ser trabalhada, ela se mostrará por si mesma. As letras vêm por último, mas eu normalmente tenho alguma idéia do que irei escrever enquanto estou criando a faixa musical. O processo em si é rápido e furioso. Eu tento não olhar para trás ou fazer auto-críticas enquanto trabalho.

PPS: Seu maior sucesso comercial foi uma co-autoria na música do Mr. Big “To Be With You” – que alcançou o número um da parada da Billboard e lá ficou por três semanas. Você tem algum tipo de desapontamento por nenhuma de suas canções pop perfeitas jamais terem conseguido o mesmo feito?

Grahame: Ter um hit no topo das paradas é mais do que estar no lugar certo na hora certa. Todas as estrelas têm que estar em alinhamento. Não existe rima ou razão para uma canção se conectar com o público. Às vezes simplesmente acontece. Neste exato momento existem milhares de canções que potencialmente poderiam atingir o número um, incluindo aí várias minhas.
Por isso, eu estaria mentindo se dissesse que não gostaria de ter outra canção número um. Mas a verdade é que isso nunca foi uma prioridade. Eu me tornei um compositor por que tinha necessidade de me expressar. Nunca teve a ver com dinheiro ou fama. Ironicamente, às vezes, essa é a fórmula exata para o sucesso.

PPS: Você já esteve em uma grande gravadora, e parece que a coisa não funcionou. Fale-nos a respeito de Shout Heard Round The World – The Lost EMI Album.

Grahame: Sim, eu tive um contrato com a EMI. Shout Heard Round The World foi o fruto do meu trabalho. O álbum foi gravado em Nova Iorque com vários membros da banda de Nick Lowe e o guitarrista dos Pretenders, Billy Bremmer.
Foi um desastre desde o início. Acho que o álbum por si só conta a história. Qualquer um que conheça minha música e do que eu era capaz naquela época, perceberia que algo estava terrivelmente errado. Acredito que eu ter abandonado o controle da direção e da produção foi um erro. Eu achei que talvez ainda fosse muito inexperiente para me auto-produzir. Olhando para trás, meu único verdadeiro arrependimento foi não ter gravado no Studio Two de Abbey Road, como a EMI havia sugerido. Suponho que todos nós cometemos erros.

PPS: Você tem diversas canções em trilhas de seriados de TV ou filmes para o cinema. Hoje em dia, estes são os melhores meios para vender sua música?

Grahame: Para mim a melhor maneira de vender minha música é simplesmente chegando à maior quantidade de ouvidos possível, e vendo em quais situações posso apresentar-lhes as canções. Alguns anos atrás, eu fui bastante criminoso com respeito à promoção do meu trabalho. Este ano pretendo mudar isso.
Sobre a TV e o cinema, faz tempo que não os procuro. Eu sei que, para alguns, ouvir sua música na televisão é sentir-se como o ‘rei da cocada preta’, mas eu realmente não tenho qualquer admiração por Hollywood. Hollywood não me impressiona. Além disso, atualmente, os royalties são risíveis se comparados com tempos atrás. Isto apenas não tem valor no tempo, a não ser que você seja todo ego.

PPS: O álbum Emitt Road é uma homenagem ao cantor/compositor Emitt Rhodes e ao disco dos Beatles Abbey Road?

Grahame: Na verdade, não. Por causa da grande quantidade de ouvintes que disseram que meu som seguia na mesma linha dos Beatles e de Emitt Rhodes, eu achei que poderia ser um título de álbum com um certo humor. E isso foi tudo. Gosto muito dos dois primeiros álbuns de Emitt Rhodes, mas não acredito que ele seja uma influência. Qualquer similaridade não é intencional.

PPS: Pessoalmente eu adoro o álbum DT And The Disagreeables. Você poderia falar um pouco sobre suas canções?

Grahame: DT foi um marco pessoal por várias razões. Eu senti que liricamente cheguei a novos terrenos, em canções como “On Your Way Out” e “I Am God” , e que estava sendo mais honesto e auto-biográfico como nunca havia sido nos meus disco anteriores. Também foi meu primeiro álbum onde a bateria estava aceitável. Eu sinto que tudo ali é simples, divertido e com pegada. Meu sarcasmo habitual é evidente, mas um pouco mais sutil que, digamos, em “Perfect Pop Song” do álbum One Brick Short’s.
Uma das minhas favoritas é “We Are Love” . A imagem de “cortando o campo afora / dois contra o vento” é muito poderosa. Se você notar, a maioria das canções não têm a “ponte”. É verso, refrão, verso, refrão, solo, meio verso e fim. Também a introdução de violinos ao vivo e cellos, ajudou este álbum a se destacar do resto. E devo dizer que “Emotions Running Wild” é uma canção que eu gostaria de escrever de novo e de novo.

PPS: Welcome To The Dark Ages seria seu próximo álbum, mas agora você o chama de “álbum abortado” e decidiu vender EPs, no seu site, com sobras (outtakes) da gravação. O que aconteceu? Fale-nos sobre as canções e seus planos futuros.

Grahame: Os planos para minha carreira estão em constante mudança. Eu não sei o que estarei fazendo no minuto seguinte. Originalmente eu planejei lançar Welcome To The Dark Ages por completo em Maio deste ano, mas eu não cumpri essa programação e acabei perdendo o interesse. Não estava inspirado para terminá-lo. Como gostava das quatro canções, resolvi lançá-las neste EP. Existe uma pequena possibilidade que Welcome... seja lançado algum dia. Agora todas as canções estão completas e o álbum só precisa ser mixado e montado.
E, o que vem agora? Nem idéia. Tudo que posso dizer é, continuem checando o meu site.

http://www.davidgrahame.com/